Despeito

A tensão entre duas mulheres está na iminência de explodir, mas, enquanto estiverem no auditório, as ofensas terão de ficar por dizer.

Curta | Ficção | Colorido | DCP | 2’21min | PR | 2020

Roteiro de Alana Rodrigues
Dirigido por Louise Fiedler
Produzido por Banda de Cinema e Milk Films

 

1

INT. CAPELA SANTA MARIA - NOITE

Entre intervalos de bancos vazios, assomassem-se poltronas ocupadas. Os casacos alinhados e os cabelos aprumados dão indícios de que os que estão estão ali empenham-se em passar boa impressão. Uma mulher na casa dos 40 anos, GISA, está acomodada em uma das fileiras. De expressão rígida e olhar ansioso, confere se há mensagens no celular. Ao fundo, ouvese o som de instrumentos sendo afinados, indício de que uma orquestra começará a tocar em breve.

A orquestra não é mostrada diretamente, sua presença é deduzida apenas pelos sons e o bulício da audiência. Tensa, Gisa começa a digitar uma mensagem no celular, mas antes que termine a primeira palavra é interrompida pelos burburinhos ressentido das pessoas ao lado, que encolhem-se nos assentos para que um alguém atrasado consiga ultrapassar o mar de pernas cruzadas que levam para o assento ao lado de Gisa.

Gisa guarda o celular ao ver a mulher ruiva e encasacada que sentou ao seu lado e lança um olhar fulminante para ela, que acomoda a bolsa no colo sem devolver o olhar. É MAYARA, 21 anos. Antes que Gisa possa abrir a boca para dizer algo à namorada, soam as primeiras notas da orquestra.

Mayara finge não perceber a tentativa de comunicação da companheira e fixa o olhar à frente; ao som da música, tira um maço de cigarro de dentro do bolso do casaco. Um SUJEITO faz um gesto para que Mayara largue o cigarro e é prontamente ignorado por ela.

Não fossem as pessoas ao redor, Gisa poderia avançar no pescoço de Mayara.

A música torna-se mais tênue, Gisa aproxima-se da orelha de Mayara para dizer algo ao mesmo tempo que Mayara abre a boca para interrompê-la, nisso, a música entra em crescendo e o casal é obrigado a interromper a quase troca de farpas.

Uma MÃO DE UNHAS FEITAS cutuca o ombro de Mayara, que desvia o olhar para alguém fora de quadro e, fazendo um gesto de desculpas com a cabeça, tira o cigarro da bolsa e o recoloca na carteira.

Assim que os passos da Mulher de unhas feitas se afastam, Mayara arroja uma mirada desdenhosa para Gisa, que retribui com a mesma hostilidade.

Sorrindo e olhando para a namorada de soslaio, Mayara traz um cigarro à boca, depois outro, depois um terceiro... Acende os três com o isqueiro e brinca com eles fazendo movimentos ridículos com a boca.

Mal podendo acreditar no que vê, Gisa arranca os três cigarros da boca da namorada e, sem querer, chamusca o casaco de um SENHOR da frente. Pessoas se levantam para tentar conter o fogo.

CORTA PARA:

 
 

2

EXT. CAPELA SANTA MARIA - NOITE 2

Uma mão bate com força a porta atrás de Gisa e Mayara. Do lado de fora, sons urbanos de uma noite fria.

As duas mantém-se caladas ao ponto do insuportável, até que Gisa abre a boca para gritar algo. Imagem é cortado no meio antes que ela chegue a dizer qualquer coisa.

DESCEM OS CRÉDITOS.